

Os rios sempre guardam segredos.
No meu território, cada diakhe do rio Içana traz a voz dos antepassados.
Eles me ensinaram que o rio não fala alto, mas cochicha.
É preciso silêncio para escutar…
Quando estive em Hannover, diante do rio Leine, lembrei dos rios da minha terra.
Ele não era o rio Içana, não era o rio Negro, mas também guardava histórias.
Pensei: Quantas vozes já atravessaram essas águas?
Quantos corpos, quantos sonhos, quantas memórias invisíveis?
Performar no rio Leine, juntamente com outros corpos de rios de biomas brasileiros — Ziel Karapotó e Olinda Tupinambá — foi devolver corpo à aquilo que o rio escondia.
Eu não falava alemão, mas falava com a água.
E a água entendeu.
Ela sempre entende.
Os segredos dos rios não pertencem só ao passado.
Eles são sementes do que ainda pode nascer.
No rio Leine, no rio Içana, em qualquer margem:
quando o corpo se oferece à água,
o rio responde com memória.
A performance NÓS SOMOS RIOS, foi um encontro de rios e de biomas.